Crônicas Caninas: A Caçada Anual da ‘Carrocinha do Cachorro Louco
Mês do cachorro louco_Agosto_a carrocinha.
Não lembro quando, só lembro que aconteceu!
A cena é pitoresca.
Tinha, na minha cidade, uma vez por ano, mais precisamente em agosto, o mês em que a “carrocinha do cachorro louco” passava e recolhia os que estivessem soltos nas ruas.
Os que estivessem sem coleira (coisa que ninguém usava), sem chip de identificação (isso nem existia) e nome do dono (geralmente era mais de um, vários de nós cuidávamos dos bichos). Havia também outros itens específicos e sofisticados que dependiam do humor do fulano que estava com a rede para caçar os animais.
Sim, havia uma rede que aprisionava o cachorrinho, o cachorrão, o que seja. Eram todos postos no engradado da carroceria do caminhão.
Diziam que eles “viravam sabão”… era um terror as histórias que surgiam do “passamento” da carrocinha. Parece que era um serviço das prefeituras… acho eu…
Logicamente, saíamos com nossos pets (linguagem atual para os nossos cachorros, gatos, passarinhos, etc. e tal) para passear, ou eles ficavam naturalmente nas ruas por um tempo. Depois voltavam para casa, voluntariamente, lugar onde tinham refeição e abrigo.
Nunca lembrávamos do ritual da carrocinha do cachorro louco, por várias razões:
— Tínhamos coisas mais importantes para fazer e, principalmente, → nunca achávamos que nossos animaizinhos seriam catalogados de loucos pelos “homens da prefeitura”.
Mas, naquele ano, algo diferente ia acontecer e nem imaginávamos o que seria.
Todos na rua, brincando, e “Espeto” no meio da criançada. “Espeto” porque ele era todo espetado. Foi parido, resultado de uma mistura muito estranha de dois seres e os pelos dele não se assentavam de jeito nenhum, mas ele era amado.
Realmente, para quem não o conhecesse, se ele latisse, seria mesmo considerado um cachorro louco (as pessoas tinham medo da “raiva” que uma mordida de cachorro transmitia).
Ele era tão feio, tão feio, que de tão feio era lindo!! Nós, geralmente, nos afeiçoávamos aos párias, parecidos conosco, criançada rebelde, arteira e muito feliz.
De repente, uma rede, em forma de cone, voa sobre nossas cabeças e “Espeto” fica preso dentro dela.
Todos corremos em cima da rede, para soltá-lo, mas o homem da carrocinha era tinhoso e teimoso.
De novo, levanta aquela rede infame e aprisiona “Espeto”, mas dessa vez, ele foi rápido. Vira imediatamente a rede, levando “Espeto” embora, latindo feito doido dentro daquele emaranhado de fios que agora o continha.
Como sempre, ele é jogado dentro do cercado da carroceria do caminhão e todos nós, ainda não refeitos da surpresa e do susto, ficamos olhando o homem da carrocinha subir na boleia e ligar o motor.
Agora a dúvida… eu, ou algum de nós, pulou na carroceria do caminhão. O resto da turma começa a gritar com o homem da carrocinha, dizendo para ele parar, porque tinha alguém na carroceria que não era cachorro.
Ele parece que não estava muito preocupado com isso e começa a movimentar o caminhão. Dois ou três de nós, inconformados com o despeito do homem da carrocinha, pulam na porta do caminhão, abrindo e atacando o fulano.
Enquanto isso, a pessoa que estava na carroceria abriu a grade, parcamente trancada e solta, “Espeto” e todos os outros que iriam virar sabão no aterro da prefeitura.
Não acho que ele conseguiu recapturar algum naquela vizinhança, porque a “criançada canina” chispou feito azougue pelas ruas afora.
Naquele ano, a vitória foi nossa.
“Espeto” viveu conosco ainda por um bom tempo, mas agora, cada mês de agosto, o mantínhamos mais trancado do que solto. Não acho que ele se lembrava do homem da carrocinha, mas nós sim.
Não me lembro realmente quem fez o quê. Mas lembro que éramos muito unidos e isso era muito gostoso.
Glossário
Cena pitoresca: cena incomum, de fato, crianças atacando a grade do caminhão e/ou o próprio motorista é algo pitoresco.
A raiva canina é uma zoonose gravíssima e fatal que pode ser transmitida através da mordida ou arranhadura do animal. A melhor forma de prevenção é vacinar o animal. Autoria do tio Google.
Rede que aprisionava o cachorrinho (…) era uma rede do mesmo formato da de caçar borboletas, mas bem maior.
Tinhoso e teimoso: forma educada de falar de um fulano, que, sem nem ao menos saber identificar se o animal estava doente, o capturava e pronto! Também não acho que lhe eram dadas instruções quanto a isso.

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