Zizibar – A Mosca.

Zizibar

Zizibar desconfia que Kafka o enfeitiçou.

Sente-se um homem completo, mas consegue voar. Entra em espaços pequenos. Tem asas e consegue enxergar a Terra, lá de cima.

O vento o leva longe, ele não consegue ir contra. Por isso viaja milhas e milhas somente embalado pelos ventos amigos, ventanias, etc.

Até já viajou num furacão. Não foi muito confortável, chacoalhava bastante e até trombou com umas coisas esquisitas, mas se deixou levar.

Doce ilusão! — Se deixou levar… ah! Zizibar! Como você iria contra um furacão? Inventa outra mentira. Nem dos ventinhos, você dá conta, imagina um ventão como o do furacão!

Mas, Zizibar descobre como conviver harmoniosamente com a forma de mosca… ou ele era uma abelha?

Tinha a bundinha pequena, acho que era uma mosca. Asas transparentes. E não era amarelo. Era preto e branco.

Até na cor era maniqueísta. Nossa!

A ilusão de viajar nos ventos o satisfazia se ele não pensasse muito.

De vez em quando, olhando de fato para si, percebia que estava em “… mares nunca dantes navegados”… Cruzes! Estava enfeitiçado por Kafka e possuído por Camões… terras nunca antes vistas, nunca antes conhecidas e eram, sem dúvida, os amigos ventos que o levavam.

Ele era a rebordosa personificada… ou “mosquificada”?

Havia um plano divino para ele? Ou ele era somente obra do acaso?

Havia algo que ele pudesse planejar e fazer? Ou ele ficaria o tempo todo sendo levado pelos amigos ventos. Sem controle, “sem destino”… ops! Isso já foi título de filme… bonito, aliás… o título… as motos, as Harley Davidson do filme… o ator protagonista… ops! Para aí!

Voltando ao questionamento filosófico da maldade de Kafka o enfeitiçando… ele era uma mosca pensando como homem? Ou já tinha sido um homem, sendo uma mosca e querendo ser um homem… se bem que o inseto de Kafka era mais nojento… será?

Bem, chega de besteira, pensando em si, sem controle, sem destino… ele precisava então se entregar aos ventos e se deixar levar, mas achar, de algum modo, uma forma de ser feliz.

Será que se informar sobre o clima, o tempo, aprender um pouco de previsão de chuva, de ventos, consegue controlar mais seus destinos? Escolher em qual vento se jogar, ou em qual vento se deixar embalar? Previsão meteorológica?

Mas como fazer isso?

Zizibar começa traçar planos para tentar controlar melhor seus destinos.

Já tinha trombado com árvores, com prédios, com gente, com animais…

Aliás, já quase havia virado meleca no pára brisa de um carro, quando os ventinhos amigos estavam carregando também água… grossas gotas de água das chuvas.

Salvou-se por pouco quando a gota de água que o estava arremessando contra o para brisa, foi atingida por uma avalanche de água erguida por um carro que cruzava ao lado, no sentido contrário.

… aliás, gostou daquela torta com que trombou outro dia na casa da… sei lá… era cheirosa e suculenta… a torta…

Quase não conseguiu se desgrudar da calda. Inda bem que não estava muito quente.

Salvou-se a tempo. Mas, até que tinha sorte, mas vivia na aleatoriedade do destino… profundo né?

Bem, pensando assim, não tinha segurança nenhuma de sobrevivência…

Sobrevivência? Quanto tempo uma mosca vive?

Voltando à maldade de Kafka, ele sempre fora mosca ou era homem e virou mosca?

De novo com essas questões? E a pesquisa dos ventos? Já tinha abandonado? Mas a torta estava deliciosa mesmo.

Até hoje ainda tinha calda numa das suas patinhas… lambe, lambe.

Aliás, comida era uma coisa que Zizibar não tinha dificuldade de achar. Qualquer vento, sempre o levava para paraísos cheirosos, em que ele lambia molhos deliciosos.

Molho branco, molho bechamel, velouté, molho espanhol, vermelho… Uau! Descobertas de “si mesmo”! Ele nem sabia que conhecia tanto de culinária.

Era uma mosca letrada! Era isso que estava achando de si mesmo. E ainda fazia uma análise de sua própria personalidade!

Uau! Acho que estava ficando lelé da cabeça. Sem noção, ficava pensando que pequenas conquistas, fornecidas pelos amigos ventos, o transformava em um sabido, conhecedor, sábio, afinal… mas ele ainda era uma mosca!

E era uma mosca infantil e ingênua.

Acabara de perceber uma enorme aranha atrás de si.

Começa e rezar por um vento amigo, ou, nesse caso, até mesmo um furacão, ele estava topando.

Suas filosofadas continuariam, ou seriam terminadas pela maldosa aranha? Era uma aranha mesmo? Ou era outra arte de Kafka?

Ninguém sabe, ninguém viu.

Zizibar está agora pregado num quadro com um alfinete, servindo de exemplo para os metidos a besta, pseudointelectuais serem mais humildes e se colocarem em seus lugares.

Ainda constam os dizeres na base do quadro em que ele jaz espetado: “Mosca Comum” e ainda mais chique: “Musca Domesticus”.

Está a ponto de apodrecer.

Joãozinho não vai tirar uma nota muito boa. Zizibar é uma mosca comum e ninguém sabe se ele foi invenção ou não de Kafka. Mesmo que tivesse sido, ninguém acreditaria mesmo!

Glossário

Kafka — escritor de A Metamorfose — entre outros, lógico.

Zizibar — um ser aleatório, inventado por uma cabeça vazia.

Previsão Meteorológica — algo de outro mundo… funciona como relógio quebrado… uma hora, sempre acerta… é fatal.

Personalidade — algo que dizem que diferencia cada ser… isto é, cada um tem a sua.

Filosofadas — pretensas conclusões filosóficas, sem nenhuma base metodológica.

Joãozinho — nome próprio para toda conclusão sem lógica.

Molho branco — molho branco… o Google te explica.

Molho bechamel — idem molho branco.

Velouté — outro molho, só que escrito em Francês, o Word não achou no dicionário.

Molho espanhol — idem molhos anteriores.

Pseudointelectuais — pessoas que acham que ler a informação a respeito de um best-seller faz dele um intelectual… ou cacarejar as últimas músicas consideradas “on”… ou…

Se eu continuar, fico aqui ad eternum e já me incluo no conceito.

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