A ONDA
Mais uma vez, “Quando quase morr1”, só que não.
Digo “mais uma vez” porque já contei sobre outras vezes que quase morri, veja lá.
Foi me dado mais um bônus. Não sei se por mérito, ou por débito.
Explico melhor: não sei se estava ganhando um bônus porque tinha feito algo de bom, ou se porque precisava ainda resolver algumas pendências… portanto, em débito com algo, alguém ou alguma coisa, ainda não sei até hoje.
No meu tempo… e vou dizer “no meu tempo” porque me refiro à eras passadas, quando eu era criança (de corpo, porque de idade ainda me resta muita infantilidade)
Acho que eu tinha uns dez anos.
A sensação de férias, a expectativa da praia, a vontade de ver novamente o mar, já tomava conta dos corações.
A responsabilidade de cumprir bem o ano letivo, sabendo que a recompensa seria, no mínimo, uns quinze dias na praia, em turma, com todos aqueles que também tivessem cumprido suas metas.
Na verdade, mesmo os que não tinham cumprido também iam; nenhuma mãe era capaz de impor qualquer restrição naquela hora.
A melhor piada daquela época foi patrocinada por minha avó. Ela, saindo do prédio, na direção do mar, olhando para trás comenta:
– Olha só o tamanho do traseiro daquela lá…
Todos viraram, obviamente curiosos de quem seria a premiada para fazer jus à língua da minha avó, quando perceberam…, mas não falaram nada.
Eu, muito sem noção, e sem freio na língua, abro a boca e…
– Vó, aquilo é um espelho… é você!
A risada veio como uma onda crescente, cada vez mais barulhenta.
Comecei a me sentir poderosa e importante até que o puxão de orelha que levei, me colocou de novo no devido lugar e deixou até hoje, uma orelha mais comprida do que a outra. Foi maldade da minha mãe aquilo; afinal, eu só estava falando a verdade… que não precisava, é lógico, mas… era verdade.
Era assim… os maridos levavam as esposas e os filhos. As esposas ficavam, os maridos voltavam, supostamente para continuar o trabalho. Eventualmente alguns dos maridos ficavam.
Geralmente, meu pai ficava.
A melhor coisa era alugar um apartamento ou casa perto do mar, da praia. Íamos a pé. Duzentos ou trezentos metros do mar. Muitas vezes entre irmãos e primos, sozinhos. Geralmente um adulto junto.
Não me lembro bem daquele dia, mas me lembro bem do sufoco que passei.
Eu adorava me exibir, na verdade, para mim mesma, porque naquela altura, cada um estava ocupado com sua própria diversão, mergulhando, pulando onda, deslizando de prancha na areia molhada, cada um se ocupava de permanecer vivo, diante das ondas que vinham e arrebentavam em nossas caras.
Escorregávamos em pranchas que tinham sido tampas de barril, já bem desgastadas e lisas.
Eram colocadas perto da intersecção entre a água e a areia. Quando a água voltava, e a areia ainda estava encharcada, vínhamos correndo, pulávamos em cima da tampa, fazendo-a deslizar vários metros na areia encharcada. Era muito boa a sensação do equilíbrio e da velocidade que aquilo tomava.
Disputávamos até quem pranchava mais longe.
Eu, metida, geralmente mergulhava na onda quando ela estava bem perto e saía ilesa do outro lado depois que ela já tinha passado.
Não sei qual foi a revolução daquela onda, quando, ao mergulhar, percebi que não saí na superfície, mas…
Não sei se pensei algo no momento, ou se foi tudo instintivo. A onda me manteve de ponta cabeça e eu comecei a nadar para o fundo, ao invés de para a superfície.
Eu não achava a saída… eu não achava a superfície.
Não entendia o que acontecia… Por quê estava ficando mais escuro, ao invés de mais claro? Por quê eu sentia a areia dura do fundo ao invés da luminosidade e ar para que eu pudesse respirar?
Foram alguns segundos, pois tenho certeza que não tinha folego para muita coisa, mas pareceu uma eternidade.
Até o ponto de sentir uma mão, a de meu pai, me puxando para fora. Mas não era ele, foi eu mesma que me virei, percebendo a areia do fundo e voltei.
A luminosidade da superfície já era tênue, mas, de qualquer forma foi uma tentativa de sobrevida.
Meu pai estava longe quando botei a cara para fora e sorvi todo ar que podia, num momento louco de alívio, e foi quando percebi que não poderia ter sido ele a me tirar do fundo.
Se o conhecia bem, com o humor que ele tinha, assim que eu saísse ele daria uma sonora gargalhada, se soubesse o que eu tinha aprontado. Ele era assim. Para tudo o que acontecia ele sempre via o lado cômico.
Eu ficava muito brava e nem pensava que hoje em dia, lembrando dele, eu faço a mesma coisa.
Meus meninos não mergulham na praia indo para o fundo ao invés de para a superfície, mas fazem outras artes e nos divertimos muito a cada arte feita.

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