Entre Deuses e Marés: Uma Odisseia de Verão.
Mais um título dramático, digno de tragédia grega…
Muitas vezes achei que iria sucumbir às forças divinas, incontroláveis tanto do Olimpo quanto da natureza, mas daquela vez, achei que nem Poseidon poderia me ajudar.
Já te contei antes que férias para nós era a expectativa de irmos para a praia. Morando no interior, esse evento era sempre um “must”.
Como todo ano, aquelas férias também nos levariam direto para as areias deliciosas e para o mar.
De fato, levou.
Fomos a uma praia diferente, naquele ano. Era pequena e, diziam todos, que a praia do lado, contígua a essa, era linda!
Havia um problema: a praia do lado só era acessível pelas pedras. Não havia um caminho seguro até ela, a não ser pelas pedras que ficavam entre o mar e a montanha.
Lá vou eu, curiosa, a investigar.
No final da praia em que eu estava, fui subindo pela montanha conforme achava apoio. Era necessário subir nela, para ao menos vislumbrar o caminho para a outra praia.
Foi o que eu fiz.
De fato, olhando de longe, era linda, mas tão linda quanto outras do nosso litoral, mas o desafio era conseguir chegar lá.
Junto com outros “dissidentes” da minha idade, olhando as pedras, a maré, as ondas arrebentando nas pedras e tudo o mais, nos atribuímos o poder de saber que conseguiríamos controlar tudo.
Com certeza era facinho, facinho para nós conseguirmos a proeza tão valorizada por muitos. Chegaríamos lá. Sem dificuldades, aliás, era o mote de nós, “poderosos”, que não têm noção de perigo.
E, seguimos, imprudentes como sempre, nas pedras, ora trombando com um siri, um caranguejo e até uma tartaruguinha despareada de sua turma.
Descalços, para quê sapatos ou chinelos se nossos pés, acostumados com os desafios de nossa coragem, já eram “customizados” para cada necessidade que se apresentava?
Tudo bem, muito bem até. Tudo bem, até o momento em que pedras limbosas começaram a atravessar nosso caminho.
Para ser mais precisa, as pedras limbosas começaram a aparecer no meu caminho, pois só eu caí, os outros não.
Escorreguei, bati as costas nas pedras em volta, fui jogada na água, mas isso não foi o pior.
Voltei à superfície, depois de ter sido tripudiada por minha estupidez. O pior foi que eu não conseguia emitir um som sequer e nem conseguia falar ou gritar, ou pedir socorro.
Sorte minha que alguém dos párias amigos olhou para trás e me viu.
Ficou também desesperado, quando percebeu que eu não falava. Aquilo durou uns segundos apenas no mundo dos vivos normais, mas no mundo dos loucos, que era onde estávamos habitando naquele momento, aquilo durou séculos.
Resumo da ópera: alguém me segurou pelo ombro e… me fez parar com a agitação!!
— Fica quieta! Já vai voltar. Pare de se agitar.
Parei. Tudo à minha volta era “fog”, era névoa… Aos poucos, comecei a conseguir definição novamente das pedras, da água, do meu amigo que havia olhado para trás e me viu cair.
Até hoje, não sei quem me segurou pelo ombro. Não sei se foi ele ou outra pessoa. Nunca perguntei. Só agradeci pela ajuda.
Mas, depois disso tudo, fiz questão de realmente chegar na praia traiçoeira. Cheguei e, como já havia constatado antes, era muito parecida com as muitas maravilhosas praias, cujo acesso era seguro.
E, como já disse, o desafio não era outro senão atravessar as pedras, e não a beleza da praia.
Eu não tinha uma bandeirinha para fixar como “O desafio vencido”, mas respirei fundo e planejei trazer aquele ar respirado, para mim, pelo resto da vida… e trouxe!
Para voltar, estava um pouco mais esperta e saí na frente de todo mundo e, ao chegar do lado seguro, conferi cabeça por cabeça.
Todos estávamos lá!!
Glossário
Entre Deuses e Marés: Uma Odisseia de Verão: Amo a mitologia grega. Encanta-me títulos com esse elã.
Poseidon — Era o deus dos mares para os gregos, mas também era traquina. Se incumbia das enchentes, tempestades.
Olimpo — Onde moravam os deuses, segundo a mitologia grega.
“must” — uma forma preguiçosa de querer parecer inteligente e entendida de inglês.
Contígua — Ali, logo em seguida.
Dissidentes — os que não pertencem aos grupos dos aceitos. Aquele que faz o que não é para fazer.
Siri — não é a assistente virtual inteligente. No caso, aqui é o bichinho mesmo! Aquele branquinho que corre nas areias da praia.
Traiçoeira — é a minha vingança para: “não saiu como eu queria”

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