Gangorra improvisada → Entre Risos e Sustos
Eu fazia sofrer quem estava do outro lado. Quem estava do outro lado podia me fazer sofrer, se juntasse forças.
Sempre fui gordinha e para quem sobe numa gangorra improvisada, isso pode ser uma vantagem… ou não…
A gangorra improvisada.
Um tambor deitado e uma longa tábua flexível na transversal, que fazia flutuar quem estivesse do lado oposto àquele que encostava no chão.
Os voos eram “livres”. Quem era jogado para cima, tinha que se garantir.
Flutuar, voltar e se agarrar novamente com as pernas, na tábua que, com sorte, ainda se mantinha logo abaixo.
Um fedelho de um lado e outro fedelho de outro. Nem sempre era um só de um lado.
Éramos três e eventualmente alguém era premiado com um susto com os dois de um lado só, mantendo o coitado sozinho do outro lado.
– E aí? Paga quanto, para descer?
– Uma bala, duas? Lavo louça para mamãe no seu dia? etc e tal.
– Você vai no banco da frente, no carro com o papai, tá?
Ou ainda.
-Lá nos eucaliptos, deixo você balançar naquele que enverga mais.
Isso porque, por um tempo, não sei qual de nós começou a ter alguma dificuldade de respiração e, por recomendação médica, ir respirar o ar dos eucaliptos era um santo remédio.
Ficamos um bom tempo, levantando de madrugada para ir até o campo de eucaliptos e respirar o ar brrrrrr…. gelado e gostoso daquelas árvores.
E, o “não sei qual de nós” deve ter sarado, porque um dia paramos de ir.
A chantagem durou até alguém descobrir que, mesmo no lado alto, estando vulnerável, ainda podia ficar em pé e descer sem se submeter à chantagem.
Brincávamos de gangorra, eu minha irmã e irmão…pregávamos peça uns nos outros, pulando de repente e deixando o outro bruscamente no chão.
Andava eu pela tábua, fazendo a irmã número um ficar sentada na outra extremidade para descer pela tábua inclinada. Ou subia no meio, onde havia o tambor e ficava gingando de um lado para o outro, sozinha.
Descia violentamente do meu lado para que o outro pulasse com o baque. Pedia que o outro fizesse o mesmo… brincávamos muito.
Havia também, nesse quintal uma terra de argila, que eu fazia bolinhas, e que atirava com a mão ou estilingue, nos outros… eu era má… ruim, segundo minha mãe.
A escola que eu frequentava no primário, era ao lado de minha casa e só atravessar a rua bastava para que estivéssemos lá. Eu disse “estivéssemos” porque eu e minha irmã íamos na mesma escola.
Lembro que às vezes, levava lanche para ela no recreio, pela saída de água do muro da escola. Não sei porque lembro de um leite com groselha, bastante bem.
O que realmente nos divertia era a gangorra improvisada, que brincávamos para valer. Era um brinquedo que nos mantinha dentro de casa, e juntos.
Tinha também um pé de Alumã, cujo galho quase na horizontal, eu usava para me pendurar de ponta cabeça, mas a gangorra, ah! A gangorra…
Um dia, mudamos de lá. Não lembro para onde fomos nem onde ficou a nossa gangorra, mas a improvisação, a brincadeira, a diversão, continuaram e continuam a fazer parte da minha vida.
São tempos que não voltam mais, mas aprendizados que não nos deixam nunca.
E viva a gangorra improvisada!!
Glossário
Alumã – era uma arvorezinha que tinha um galho que satisfazia minha vontade de fazer arte. Gostava de pendurar nele. Minha mãe fazia um chá com as folhas. Não lembro se tomei e/ou se gostava.
Transversal – inventei de colocar isso como definição porque andei tentando conversar com umas “inteligencias artificiais” para conseguir uma imagem e não houve meios dela me entender… ou eu é que não entendi a ela. Mas, é o que cruza um outro objeto (que nem uma cruz)
Fedelho – é uma definição meio pejorativa de criança arteira.

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