Jerônima, A formiga do microondas
Jerônima é levada pelos cheiros doces e almíscares a uma sala enorme, escura, mal iluminada, na grande cozinha em que vive.
É fato que Jerônima não conhece tudo, mas é curiosa e investiga cada micro milésimo de espaço quando pode explorar, saindo do seu formigueiro.
Desbravadora de novos territórios e corajosa em suas conquistas, um dia ela parte para o mundo. Quer conhecer o mundo, explorar aquilo que suas companheiras têm medo de conhecer. Ela pega sua mochilinha e parte, parte para o mundo desconhecido.
Depois de caminhar algum tempo, ela está em um ambiente estranho, uma sala parece.
Estar agora em uma sala desconhecida, de metal, parece, com um grande muro na frente, todo transparente e bonito, sim, bem bonito, é algo novo para ela.
Novos horizontes se apresentam em sua vida. Nunca vira aquilo…. É lindo!
Seu desapego à colônia e posterior medo já está valendo a pena.
E, de repente a sala se ilumina, sons terríveis são ouvidos, mas Jerônima escuta, e só vê luzes, e o grande muro se movimentando, de uma forma muito lúgubre. Ele se levanta, abre um espaço entre o chão e sua borda e começa lentamente a girar.
Parece o troar de um monstro que sai da escuridão, e vomita belos estalidos de luz de um lado e faz ronronar o coração do inominado, cuspindo como se fossem flechas, pequenas formas redondas, amarelas, que pulam e se abrem, transformando-se magicamente em lindas formas brancas que parecem nuvens que não se sustentam, mas caem naquele chão de vidro todo forrado agora delas.
As explosões continuam até que Jerônima se dá conta que aquilo tem vida, abre-se uma porta e uma coisa com cinco ganchos agarra as nuvens brancas, as retira, levando consigo o enorme muro de vidro que agora comporta todas elas.
Jerônima está um pouco mareada. Anda erraticamente pela grande sala, sua barriga ronca, ela parece meio aguada, mole, ela treme toda, mas anda atordoada pela sala, enquanto a porta é novamente fechada, e a luz se apaga.
Jerônima volta-se e vê um ser estranho, que abriu e fechou a grande sala. Será esse ser algo superior? O deus das formigas?
Por que as formas amarelas se arrebentaram, viraram do avesso e se transformaram em belas formas de nuvem e Jerônima não?
Ela ainda precisava se transformar naquela forma amarela para virar nuvem? Como fazer isso?
Jerônima é o modelo atual de como caminha o conhecimento da humanidade.
Relações juradas como causais populam o imaginário, preenchem documentos científicos, recomendam comportamentos e definem diagnósticos.
Não sei se sempre foi assim, e somente as ferramentas de comunicação é que mudaram, mas essa é minha sensação nessa época em que vivo.
A roupa nova do rei de Hans Christian Andersen está mais atual do que nunca.
Continua-se fazendo vista grossa e ouvidos moucos para situações obviamente enganosas.
A continuar assim, estaremos, em breve, dançando em volta da fogueira para agradar os deuses para que eles nos mandem chuva.
Assustador!!
Glossário
-micro-ondas– Cozinha, frita, assa. O mesmo que um forno a eletricidade, mas muito rápido e satisfatório para as insatisfações dos apressados.
-almíscares- odor extraído ora da madeira, ora de um ser animal. Para gostos excêntricos.
-desbravadora – aquela que se aventura por caminhos temidos por outros. Uma leve falta de noção do perigo.
-desapego – desligamento de algo, incontrolável para determinados assuntos, frustrando tentativas de controle, saindo do lugar comum das emoções vinculativas.
-lúgubre – assustador, incomum para a noção de senso comum.
-troar – fazer barulho forte. Forma de parecer entendido do assunto.
-inominado- Aquele Cujo Nome Não Se Conhece. Mistério, misterioso. Ou… simplesmente aquele que não foi nomeado. Escolha o mood que prefere.
-mareada- enjoada. Jerônima, por exemplo, está mareada pelo movimento das águas de seu corpo, provocada pelas ondas do micro-ondas.
-relações juradas como causais- relações causais estabelecidas convenientemente para a finalidade da pesquisa, que abrem mão de variáveis intervenientes para comprovar a hipótese levantada.
-documentos científicos- aqueles endeusados por aqueles que precisam de muleta para serem creditados. Os que são “dogmas” das ciências.
-diagnósticos – resultados catalogados nos livros especializados, para darem sequencia a procedimentos médicos, financeiros, etc e tal.
-Hans Christian Andersen -Autor do conto “A roupa nova do rei”. Leia, você vai gostar.
-A roupa nova do rei – a fábula de HC Andersen, com significado eterno – segundo eu, lógico.
-ouvidos moucos- aquele que ouve mal. Muito conveniente quando se trata de não dar bolas as falas desinteressantes. Sejam elas verdadeiras ou não.
-deuses- seres supostamente superiores que povoam o imaginário e que preenchem a vida do sonhador.

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