Tertúlias Entre Autor & Personagem

O que diria o personagem se tivesse voz na relação com o autor?

Em seguida, uma conversa, inventada e suposta por mim, entre o autor e o personagem.

Logicamente é uma das possibilidades, há inúmeras outras, mas vou discorrer sobre essa… e lá vamos nós…

************************************

— Como foi que eu te inventei? — pergunta a autora. — Como foi que eu te criei?

— Não sei! Quem tem que responder isso é você e não eu. — diz o personagem já sentindo um demérito na pergunta.

— Lembrei! Eu te vi, um dia na rua, me encantei. Me apaixonei. De longe, sem te conhecer, sem nunca ter conversado contigo, foi assim.

— Quer dizer… você viu alguém e resolveu inventar um personagem igual? Inventar não, descrever, melhor dizendo.

— Não gosto muito dessas suas observações. — diz a autora.

— Mas eu não era assim, como você está retratando. — diz o personagem, tentando ser o protagonista.

— Como sabe? Fui eu que vi… era como eu via. Foi assim que eu te amei. — replica a autora.

— Mas eu sou você, portanto também me vi e não bate com o real. — diz o personagem.

— Está ficando inconveniente. — reclama ela. — Eu é que determino o que vejo, não você.

O personagem, tentando ganhar espaço, e manter a sobrevivência, resolve mudar o rumo da conversa.

— E ela? A personagem que criou para mim? — ele pergunta.

— Era eu! Melhor dizendo, era o que eu gostaria de ser. Era o que eu gostaria que você gostasse, era como eu imaginava que você me amasse. — ela diz, com entusiasmo e olhos sonhadores.

— Mas como sabia que eu ia gostar de você? — ele pergunta.

— No meu sonho, eu mando, os personagens fazem como eu quero. — a autora responde, já com modos ríspidos. — Como assim, um personagem me questionando? Eu mesma o criei assim, ou isso é uma ilusão? Que fulano mais chato!!

— Não temos vontade própria? — ele pergunta.

— Você está perguntando uma besteira. Sou eu que os crio. Sou eu que comando suas vontades e suas ações. Eu decido suas características de personalidade.

— É você que está permitindo que eu faça tantas perguntas agora?—ele pergunta, meio ofendido.

— Sim. — ela responde levantando as sobrancelhas.

— Não é enfadonho? Não é chato?

— Por quê? Fazer que as coisas aconteçam do jeito que quero, é a melhor coisa do mundo. Eu comando, eu mando, eu faço acontecer… ou não!

— Como você quer que eu te ame? Como você quer ser atraente para mim?

— Ah! Preciso pensar bem, pois acho que amor é algo que se cultiva, mas não acho que dure para sempre. Acho que o que perdura numa relação são outros fatores… as pessoas costumam chamar de amor, mas acho que tenho que escolher outro nome para isso.

— O que, por exemplo?

— Sei lá! Preciso pensar melhor a respeito.

— Espere! Algumas coisas você comanda, dirige, outras não? Mesmo isso é decisão sua?

— Do que está falando?

— Não está sendo confusa? Se é você que cria, você que manda, por que o amor não pode durar para sempre?

— Não seja bobo. Não existe “para sempre”.

— Como não? Afinal, você comanda ou não seus personagens e os sonhos que tem sobre eles? Você os constrói, ou não.

— Espere! Quem sugeriu “para sempre” foi você, não eu.

— Não, foi você quando disse que achava que não durava para sempre…

— Ah! É… é você que está me deixando confusa.

— Mas você diz que comanda tudo, portanto você me permitiu questionar.

— Estou achando que essa nossa conversa é “uma faca de dois gumes”. Gostava mais quando você não tinha opinião. Ficava mudo.

— Por quê?

— Porque ninguém, nem mesmo eu, me questionava. Escrevia e pronto! Estava sempre bom, segundo eu mesma.

— Mas não acha bom, você mesma se questionar?

— Sei não! Dá muito trabalho. Melhor ficar na mesmice.

— O que é mesmice? — diz o personagem.

— E? Lá vamos nós de novo?

— Sim, a menos que você me elimine da sua vida, vou continuar perguntando.

— É! Acho que “dei um tiro no pé”. Não sei se tem como te eliminar.

— Estou a salvo, então? — diz o personagem feliz.

— Sei não! A menos que eu elimine esse ranço que tenho de você…

— Peraí! Primeiro era para eu te amar, agora vem me dizer que tem ranço de mim? Como assim?

— É! Um dos meus defeitos é essa minha esquizo. Esse duplo vínculo que espalho por todo meu espaço. Essa confusão que, ao mesmo tempo, me torna uma ótima escritora e uma maluca sarada.

— Falou, falou, falou e não disse nada. Só bobagens. O que adianta esse blá, blá, blá todo e nenhuma resposta para minha pergunta?

— Acho que você está ficando muito espertinho, muito autônomo como personagem. Sabe o que vou fazer? — ela diz gritando para as quatro paredes que a cercam…

— Não! O quê?

— Vou acabar com sua existência.

Enchendo-se de coragem, desafiando tudo e todos, mesmo as palavras mais sábias, as filosofias mais opressivas e as mais permissivas, ele grita a plenos pulmões…

— SÓ VAI CONSEGUIR SE ACABAR COM A SUA TAMBÉM.

E agora? O que era aquilo? Era realmente o seu personagem adquirindo independência, ou seu alter ego se manifestando afinal?

Como continuar? Melhor parar ou se internar? Ou… continuar escrevendo sempre dando margem à criatividade, fingindo que nada aconteceu?

Tertúlias, Autor & Personagem

O que diria o personagem se tivesse voz na relação com o autor?

Em seguida, uma conversa, inventada e suposta por mim, entre o autor e o personagem.

Logicamente é uma das possibilidades, há inúmeras outras, mas vou discorrer sobre essa… e lá vamos nós…

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— Como foi que eu te inventei? — pergunta a autora. — Como foi que eu te criei?

— Não sei! Quem tem que responder isso é você e não eu. — diz o personagem já sentindo um demérito na pergunta.

— Lembrei! Eu te vi, um dia na rua, me encantei. Me apaixonei. De longe, sem te conhecer, sem nunca ter conversado contigo, foi assim.

— Quer dizer… você viu alguém e resolveu inventar um personagem igual? Inventar não, descrever, melhor dizendo.

— Não gosto muito dessas suas observações. — diz a autora.

— Mas eu não era assim, como você está retratando. — diz o personagem, tentando ser o protagonista.

— Como sabe? Fui eu que vi… era como eu via. Foi assim que eu te amei. — replica a autora.

— Mas eu sou você, portanto também me vi e não bate com o real. — diz o personagem.

— Está ficando inconveniente. — reclama ela. — Eu é que determino o que vejo, não você.

O personagem, tentando ganhar espaço, e manter a sobrevivência, resolve mudar o rumo da conversa.

— E ela? A personagem que criou para mim? — ele pergunta.

— Era eu! Melhor dizendo, era o que eu gostaria de ser. Era o que eu gostaria que você gostasse, era como eu imaginava que você me amasse. — ela diz, com entusiasmo e olhos sonhadores.

— Mas como sabia que eu ia gostar de você? — ele pergunta.

— No meu sonho, eu mando, os personagens fazem como eu quero. — a autora responde, já com modos ríspidos. — Como assim, um personagem me questionando? Eu mesma o criei assim, ou isso é uma ilusão? Que fulano mais chato!!

— Não temos vontade própria? — ele pergunta.

— Você está perguntando uma besteira. Sou eu que os crio. Sou eu que comando suas vontades e suas ações. Eu decido suas características de personalidade.

— É você que está permitindo que eu faça tantas perguntas agora?—ele pergunta, meio ofendido.

— Sim. — ela responde levantando as sobrancelhas.

— Não é enfadonho? Não é chato?

— Por quê? Fazer que as coisas aconteçam do jeito que quero, é a melhor coisa do mundo. Eu comando, eu mando, eu faço acontecer… ou não!

— Como você quer que eu te ame? Como você quer ser atraente para mim?

— Ah! Preciso pensar bem, pois acho que amor é algo que se cultiva, mas não acho que dure para sempre. Acho que o que perdura numa relação são outros fatores… as pessoas costumam chamar de amor, mas acho que tenho que escolher outro nome para isso.

— O que, por exemplo?

— Sei lá! Preciso pensar melhor a respeito.

— Espere! Algumas coisas você comanda, dirige, outras não? Mesmo isso é decisão sua?

— Do que está falando?

— Não está sendo confusa? Se é você que cria, você que manda, por que o amor não pode durar para sempre?

— Não seja bobo. Não existe “para sempre”.

— Como não? Afinal, você comanda ou não seus personagens e os sonhos que tem sobre eles? Você os constrói, ou não.

— Espere! Quem sugeriu “para sempre” foi você, não eu.

— Não, foi você quando disse que achava que não durava para sempre…

— Ah! É… é você que está me deixando confusa.

— Mas você diz que comanda tudo, portanto você me permitiu questionar.

— Estou achando que essa nossa conversa é “uma faca de dois gumes”. Gostava mais quando você não tinha opinião. Ficava mudo.

— Por quê?

— Porque ninguém, nem mesmo eu, me questionava. Escrevia e pronto! Estava sempre bom, segundo eu mesma.

— Mas não acha bom, você mesma se questionar?

— Sei não! Dá muito trabalho. Melhor ficar na mesmice.

— O que é mesmice? — diz o personagem.

— E? Lá vamos nós de novo?

— Sim, a menos que você me elimine da sua vida, vou continuar perguntando.

— É! Acho que “dei um tiro no pé”. Não sei se tem como te eliminar.

— Estou a salvo, então? — diz o personagem feliz.

— Sei não! A menos que eu elimine esse ranço que tenho de você…

— Peraí! Primeiro era para eu te amar, agora vem me dizer que tem ranço de mim? Como assim?

— É! Um dos meus defeitos é essa minha esquizo. Esse duplo vínculo que espalho por todo meu espaço. Essa confusão que, ao mesmo tempo, me torna uma ótima escritora e uma maluca sarada.

— Falou, falou, falou e não disse nada. Só bobagens. O que adianta esse blá, blá, blá todo e nenhuma resposta para minha pergunta?

— Acho que você está ficando muito espertinho, muito autônomo como personagem. Sabe o que vou fazer? — ela diz gritando para as quatro paredes que a cercam…

— Não! O quê?

— Vou acabar com sua existência.

Enchendo-se de coragem, desafiando tudo e todos, mesmo as palavras mais sábias, as filosofias mais opressivas e as mais permissivas, ele grita a plenos pulmões…

— SÓ VAI CONSEGUIR SE ACABAR COM A SUA TAMBÉM.

E agora? O que era aquilo? Era realmente o seu personagem adquirindo independência, ou seu alter ego se manifestando afinal?

Como continuar? Melhor parar ou se internar? Ou… continuar escrevendo sempre dando margem à criatividade, fingindo que nada aconteceu?

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